“Nas últimas semanas, têm sido divulgadas, nos meios de comunicação social, diversas notícias sobre a
possibilidade de introdução de um serviço ferroviário entre a Covilhã e o Fundão. Já no início de 2023, foi
anunciada uma iniciativa semelhante, e em 2024 houve mesmo um arranque previsto até ao final do 1o
trimestre desse ano, o que acabou por não se concretizar. Agora, o tema regressa à atualidade.
A Associação Move Beiras, sem fins lucrativos, foi criada com o intuito de valorizar as pessoas e os territórios
percorridos pelas Linhas da Beira Baixa e Beira Alta, através da utilização do comboio. Deste modo, estando
sensível ao potencial da mobilidade no eixo da Beira Interior, lançou a questão no fórum “O Futuro da
Ferrovia”, organizado em novembro de 2022, na exposição Rail Fest, no Tortosendo.
Durante o evento, propôs-se ao painel de debate – composto por representantes das autarquias da Covilhã,
Fundão e Guarda, bem como da Universidade da Beira Interior – a realização de um estudo aprofundado
sobre a viabilidade desta ligação pendular.
Neste contexto, a Move Beiras manifesta o apoio a esta iniciativa e considera-a de extrema relevância para
a região. Por questões de coesão, desenvolvimento do território e justiça social, é fundamental que um
serviço deste género seja concretizado rapidamente, garantindo que responde eficazmente às necessidades
da população e assegura a sua sustentabilidade a longo prazo. Mas, considera essencial alertar para fatores
críticos de sucesso, que devem ser tidos em conta para evitar que este serviço siga o destino de outros
projetos ferroviários fracassados no passado (Linhas de Leixões e de Vendas Novas, ambos em 2009).
Elementos fundamentais para o sucesso do serviço
Para a Move Beiras, o estudo feito junto das entidades interessadas e a implementação deste serviço
ferroviário devem, desde logo, incidir sobre os seguintes pontos:
1. Âmbito geográfico – Considerar um serviço no eixo Guarda–Vila Velha de Ródão, garantindo maior
abrangência e conectividade regional.
2. Integração com outros transportes públicos – Coordenar e articular os serviços de transporte
urbano, de forma a garantir horários ajustados e intermodalidade eficaz com o novo serviço
ferroviário, fundamental para uma mobilidade integrada. Como tal, é crucial:
o Definir um sistema de bilhética integrada (comboio + mobilidade urbana).
o Ajustar ou criar carreiras urbanas que sirvam as estações onde ainda não existam.
3. Identificação de polos geradores de tráfego – Incluir serviços de saúde, escolas, estabelecimentos
de ensino superior, zonas comerciais e de serviços, polos industriais, entre outros, assegurando que
o serviço responde às reais necessidades. Avaliar a criação de novas paragens ferroviárias.
4. Infraestruturas e acessibilidades – Identificar obras e ajustamentos necessários nas estações, de
forma a torná-las mais confortáveis e acessíveis para os utilizadores.
5. Disponibilidade de recursos – Avaliar a disponibilidade do material, recursos necessários e o custo
da operação. Deve ainda considerar-se a isenção da “portagem ferroviária”, durante a fase piloto.
Só depois de garantidas estas condições, será possível assegurar a viabilidade e sustentabilidade do serviço
a longo prazo, evitando que acabe poucos meses após o arranque, comprometendo futuras iniciativas.
Envolvimento institucional
Estas preocupações já foram apresentadas em diversas instâncias institucionais. A Move Beiras abordou este
tema em reuniões com os deputados dos distritos de Castelo Branco e Guarda, em fevereiro de 2023, e
posteriormente, em encontro com o Secretário de Estado dos Transportes, Frederico Francisco, do Governo
de António Costa, em abril de 2023. Além disso, fez chegar, várias vezes, estas e outras questões à
Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT).
A Move Beiras mantém-se, como sempre, disponível para trabalhar em conjunto com todas as entidades,
promovendo soluções sustentáveis para a mobilidade ferroviária na região. Só assim o nosso lema faz
sentido: “Há linhas que nos unem e uma região que nos move.”