A pianista Maria João Pires, de 81 anos, está a vender a propriedade de Belgais, nas proximidades de Castelo Branco, onde fundou o emblemático Belgais Center for Arts. O espaço, criado em 1999, foi durante mais de duas décadas um símbolo da sua visão humanista da arte e da educação, promovendo o encontro entre música, natureza e comunidade. Agora, a artista prepara-se para encerrar esse capítulo da sua vida.
Em entrevista à Renascença, a pianista explicou que encara a venda como uma mudança natural. “As coisas têm de continuar. Não significa que seja igual, mas que haja um aproveitamento positivo”, afirmou. A pianista acredita que Belgais deve manter-se fiel à sua vocação artística e pedagógica, e não ser transformado numa simples residência privada. “É importante que as coisas continuem para o que foram feitas”, sublinhou.
Depois de sofrer um AVC e de se afastar dos palcos, Maria João Pires dedica-se à terra e ao contacto com a natureza, confessando: “Já não sou pianista.” O cansaço físico, o stress do palco e as viagens constantes levaram-na a procurar uma vida mais simples, onde o essencial é a serenidade. “Gosto da mudança. Areja as ideias, os lugares, as coisas”, afirmou.
O Belgais Center for Arts foi um espaço de transformação pessoal e coletiva, onde a música se uniu à pedagogia e à consciência ecológica. Ao decidir vendê-lo, Maria João Pires não o faz com tristeza, mas com a convicção de que o legado pode seguir outros caminhos. “No fundo, o que semeamos é o que importa. Depois, vamos colher o que semeamos”, disse à Renascença. A artista defende que a continuidade do projeto dependerá de quem o assumir, desde que mantenha o espírito de serviço à comunidade e o respeito pela natureza. Para Maria João Pires, Belgais foi sempre mais do que um lugar: foi um ideal de harmonia entre arte, educação e humanidade.





