Terça-feira, Setembro 23, 2025

O Candidato Responde: Mário Camões (Esquerda Livre)

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Pode apresentar-se brevemente, incluindo percurso pessoal, profissional e político?

O meu nome é Mário Camões. Tenho 35 anos, nasci em Castelo Branco e resido na União de Freguesias de Freixial e Juncal do Campo. A minha família tem origem nas aldeias da Grade e do Chão da Vã, e no concelho de Pinhel.

Os primeiros dez anos da minha vida vivi-os em Macau. Regressado a Portugal, fui estudar para o Colégio Militar. Mais tarde, frequentei o curso de Gestão no ISCTE e trabalhei em multinacionais tecnológicas como a Microsoft e a Google, maioritariamente na Irlanda.

Após dez anos, decidi mudar radicalmente de vida. Regressei à região onde nasci e iniciei um novo percurso ligado à agricultura. Tinha vontade de me ligar à terra e procurar uma atividade com mais significado. Atualmente encontro-me a empobrecer alegremente no campo e a aprender, da forma mais difícil, os graves problemas do setor agroflorestal. Apesar das dificuldades, mantenho a motivação para continuar esta árdua, mas gratificante, mudança de vida.

Politicamente, sou membro do DiEM25 – Democracy in Europe Movement (Movimento Democracia na Europa 2025). Fui candidato independente pelo Bloco de Esquerda às Eleições Legislativas de 2024 e sou promotor da Biblioteca Crítica, um pequeno projeto de biblioteca comunitária e tertúlias de Filosofia, Política e Sociedade no município de Castelo Branco.


O que o motivou a candidatar-se à Câmara Municipal de Castelo Branco?

Existe falta de empreendedores políticos de esquerda a fim de enfrentar a classe dirigente local e as suas possíveis represálias. Por outro lado, o debate público e as circunstâncias em que é feito não são favoráveis para quem tenha ideias alternativas à ideologia dominante neoliberal que conquistou a noção de “senso comum” na nossa sociedade.

Tudo o que fuja a esse consenso precisa de espaço e tempo para o seu combate, e esse infelizmente não cabe no intervalo entre dois anúncios de televisão, em 4000 caracteres de um artigo num jornal, nem em 15 minutos de conversa de café.

Contudo, a motivação mais forte surge da enorme preocupação que tenho vindo a desenvolver com o progressivo declínio das condições de vida da maior parte das pessoas em todo o mundo, assim como a crise ecológica que ameaça a extinção da espécie humana. É crucial tomar medidas radicalmente corajosas se quisermos reverter a espiral descendente em que nos encontramos.

Em Castelo Branco, se não o fizermos, não só continuaremos a perder população, como será insuportável viver no nosso município daqui por poucas décadas. Estou genuinamente farto de simplesmente assistir impotente a tudo isto e notar desencanto nos meus amigos de cá.

Compreendi que todos somos agentes de transformação política, que só organizados teremos força. A mudança começa nas nossas próprias mentes e nas nossas comunidades mais próximas. Foi assim que decidi aceitar o desafio de me candidatar, rodeado de vontades progressistas com uma só certeza: um mundo melhor é possível e podemos começar a construí-lo em Castelo Branco.


Quais são as três prioridades que pretende implementar caso seja eleito?

As grandes áreas de atuação que definimos são a Habitação, a Economia/Emprego e a Saúde. Contudo, como notámos a ausência de uma pergunta no questionário focada na Habitação, aproveito para defender as nossas três prioridades nesse mesmo âmbito:

  • Mobilização urgente e prioritária de todo o património da Câmara para habitação municipal de arrendamento acessível e apoio à constituição de cooperativas de habitação, medidas com provas dadas em cidades “best practice” como Zurique, Singapura e Copenhaga.
  • Combate à especulação imobiliária na construção: todas as novas urbanizações têm que contemplar pelo menos 30% de habitação acessível.
  • Convocar Assembleias Cidadãs para decidir alterações ao IMI que incentivem a disponibilização de imóveis privados no mercado de arrendamento, bem como decisões quanto à desburocratização da bioconstrução e casas modulares, visando maior rapidez e sustentabilidade.

Que medidas planeia para o desenvolvimento económico e a criação de emprego no município?

Defendemos uma economia de desenvolvimento local ao serviço das pessoas e não do lucro alheio que não será reinvestido localmente. Propomos uma política industrial cooperativista que retenha a riqueza cá criada, mobilize os recursos endógenos da Beira Baixa e crie emprego digno, estável e sustentável.

O nosso desenvolvimento deve estar orientado para a transição ecológica, a soberania alimentar e energética, e a valorização da economia circular.

  • Promover a criação de uma Federação Cooperativa Multissetorial apoiada pela Câmara Municipal, funcionando como conglomerado económico democrático, gerido pelos trabalhadores e com participação direta de cidadãos, clientes, fornecedores e instituições locais nas principais decisões.
  • Apostar na valorização dos recursos locais e atração de investimento em setores estratégicos, com foco na transição digital e ecológica: agrofloresta, ecoturismo e turismo cultural, bem como tecnologias para a sustentabilidade.
  • Alavancar instrumentos de dinamização económica, como a expansão da incubadora de empreendedorismo social, políticas de compra pública sustentável, desenvolvimento de moeda complementar municipal, criação de um Gabinete Municipal de Trabalho Garantido e implementação da semana laboral de quatro dias.

Como pretende melhorar áreas como educação, saúde, mobilidade e transporte?

Na Educação: alimentação gratuita nas escolas até ao fim da escolaridade obrigatória, expansão de programas de ensino de Português como língua estrangeira, simulacros anuais para preparação da população contra incêndios e planos de promoção de felicidade e bem-estar na comunidade educativa.

Na Saúde: criação de Observatório Local de Saúde e Equidade, instituição do Provedor da Inclusão e Direitos, campanhas regulares de prevenção e rastreios gratuitos, apoio à saúde dentária, aposta em centro de recuperação médica, programa “Diabetes em Movimento” e promoção de saúde comunitária.

Na Mobilidade: protocolo com o IPCB para app de transportes públicos e car-sharing, expansão da rede de ciclovias, ligação rodoviária internacional para Herrera de Alcântara, ascensor do Castelo e reivindicação por mais horários de comboios Intercidades e Regionais.


Que iniciativas propõe para cultura, desporto e lazer em Castelo Branco?

Na Cultura: regenerar os bairros do Castelo e do Barrocal em “Bairros Culturais”, valorizar equipamentos culturais e trabalhadores, organizar um Festival Cultural Democrático, criar protocolos para residências artísticas em aldeias despovoadas e lançar uma agenda cultural digital e unificada da Beira Baixa.

No Desporto e Lazer: investir em praias fluviais, recuperar a Colónia de Férias de Média Altitude no Louriçal do Campo, dinamizar a Lagoa de Castelo Branco, criar uma agenda desportiva semanal, dar utilidade ao campo de areia da piscina praia e promover atividades gratuitas e regulares em espaços públicos.


Qual a sua visão para a sustentabilidade e proteção ambiental na cidade?

A nossa candidatura defende uma visão ambiciosa e realista, colocando a ecologia, a soberania energética e alimentar no centro das políticas municipais.

Propomos mais sombreamento verde, um Programa Municipal de Apoio à Agroecologia, valorização e controlo dos cursos de água, combate à exploração extrativista e integração descentralizada de energias renováveis.

Defendemos medidas de prevenção contra incêndios através do apoio à pastorícia, contratação de sapadores, instalação de cisternas públicas e debate sobre monoculturas.

Propomos ainda iniciativas como o Dia Mundial da Bolota, programas de compostagem e reaproveitamento de águas pluviais, e um Plano para a Soberania Energética Municipal, com comunidades de energia renovável, biometanização e utilização sustentável de biomassa florestal.


Qual considera ser o maior desafio que Castelo Branco enfrenta atualmente?

A crise demográfica provocada pelo despovoamento e envelhecimento populacional. Sem pessoas em idade ativa não há economia, cultura e serviços que resistam. Essa crise só será revertida com políticas ambiciosas de habitação acessível, empregos atrativos e serviços públicos eficientes.


Se pudesse mudar apenas uma coisa na gestão do município, qual seria e porquê?

A democratização e transparência radical da gestão municipal. Mais do que executar, devemos mudar a forma como se decide o que executar, para quem e porquê. A democracia participativa não é acessória, mas condição prévia para qualquer transformação significativa em Castelo Branco.


Como pretende aproximar a Câmara Municipal dos cidadãos e promover a participação ativa da população?

Através da melhoria das Assembleias Municipais e de Freguesia, com transmissão online, arquivos acessíveis e comunicação direta aos munícipes. Defendemos horários pós-laborais e condições adequadas para a participação cidadã.

Na inovação democrática, propomos Assembleias Cidadãs para temas cruciais, questionário anual de satisfação do munícipe, fórum digital de cidadania e um portal de transparência municipal.

No espaço público, queremos criar “terceiros espaços” comunitários em cada bairro e aldeia, bem como disponibilizar uma loja na Devesa para associações sem fins lucrativos.


Que mensagem gostaria de deixar aos cidadãos de Castelo Branco que vão decidir o futuro da cidade?

A mudança verdadeira não acontece apenas com a cruz no boletim de voto de quatro em quatro anos. É necessário apostar em vozes alternativas nas Assembleias Municipais e de Freguesia, capazes de escrutinar o poder local.

Todos devemos envolver-nos mais ativamente na política, mesmo fora dos ciclos eleitorais. A política não é mais do que decisões tomadas em grupo, e devemos reivindicar o nosso lugar à mesa das decisões que mais nos afetam. Só assim a mudança surgirá como consequência de vozes finalmente ouvidas.

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